Patrono dos Licenciados em Química dna UERJ em 2002
Texto para ser representado enquanto Patrono da Turma da Licenciatura em Química da UERJ em agosto de 2002.
Muito queridas Adriana Fraga, Adriana Moraes, Adriana Pinheiro, Anna Karina, Cristiana e Gisele e muito queridos Bruno Vinicius, Jaguaçu e Marcelo.
Por primeiro, um reconhecido e emocionado agradecimento. Graças a vocês amealho algo que ainda não tinha em minha história de 42 anos de professor. Vivi, não poucas vezes, ditosas experiências homenagens. Agora vocês, carinhosamente me fazem Patrono de Turma. É a primeira vez que sou assim distinguido. Isso não apenas me faz sentir-me importante. Até me dá uma certa imponência vetusta. Peço perdão, por externar este sentimento na presença do Professor Índio do Brasil, que junto comigo é colega de patronagem, pois recebe a mesma distinção dos formandos de Engenharia Química.
É muito bom estar aqui. O meu querido amigo e colega Professor Josemar Coutinho Lima não é agora apenas a minha voz. Ele é todo o meu coração. Obrigado por me terem muito intensamente comungando das alegrias e das esperanças de vocês nesta noite. Mesmo estando fisicamente a mais de 1.200 km, estou muito junto com vocês neste momento em que vivem um ritual de passagem. Se dizemos que para congraçamentos de afetos não existem distâncias, vivamos agora essa credo.
Quero que saibam, cada uma e cada um, o quanto estou torcendo ? e torcer é uma forma bonita de rezar ? para que as muitas utopias construídas durante a realização deste curso se transformem em promissoras realidades.
Claro que perguntei acerca do porque da homenagem que vocês me conferem. Há uma resposta, em uma muito atenciosa mensagem eletrônica da Gisele: “...o senhor foi escolhido como patrono da turma de Licenciatura em Química, uma vez que seus livros serviram de suporte para a construção de nossos sonhos de uma educação transformadora e formadora de cidadãos. [...] Será uma satisfação muito grande fazer esta homenagem dos alunos e alunas que embora nunca tenham tido aula com o senhor, admiram seu trabalho e sua pessoa.” Poderia alguém que inclui na sua gratificante atividade de ser professor uma continuada preocupação em disseminar Educação também com escrituras ? e sirvo-me do depoimento que fazem, quando justificam o porque de minha escolha como Patrono ? livros que serviram de suporte para a construção de nossos sonhos de uma educação transformadora e formadora de cidadãos. Isso para mim é um grande presente.
Vocês me fazem muito feliz com a justificativa. Sinto-me gratificado. Em razão dessa homenagem percorro agora, com vocês, o catalisador da homenagem: Comecei tardiamente esta atividade. Já estava no meu 30º ano de magistério, quando em 1990, timidamente amealhei algumas experiências de professor de Química e a Editora UNIJUÍ publicou A Educação no Ensino de Química. Era um dos primeiros livros brasileiros em Educação Química, área que se consolidaria como produtiva e que hoje tem em Química Nova na Escola, uma revista semestral como um ícone da área. Talvez aqui coubesse ainda o registro de que aquele modesto livrinho continua presente, mesmo há muito esgotado. Há duas semanas recebi uma mensagem de uma professora da Universidade Federal do Ceará que dizia o quanto aqueles textos são ainda apreciados por seus alunos e alunas.
Quando a Editora solicitou uma nova edição, propus uma significativa ampliação e em 1993 foi publicado Catalisando transformações na Educação, que teve uma terceira edição em 1995. Anteriormente me propusera outro desafio: suprir uma lacuna brasileira: um livro de História da Ciência que fosse acessível a um universo muito amplo de leitores. Em 1994 é publicado pela editora Moderna: A ciência através dos tempos, que já teve 13 reimpressões, com mais de 40 mil exemplares vendidos. Já preparei para este livro uma nova edição revisada, ainda sem data de lançamento.
Em 1995, trouxe um novo interrogante para ampliar as discussões que fazia nos dois primeiros livros: Para que(m) é útil o ensino? Publicado pela Editora da ULBRA onde discuto uma dolorosa realidade: a quase inutilidade do ensino (de Química) que fazemos.
Depois houve duas produções coletivas, publicadas pela Editora UNISINOS. Uma é de 1998: Ciência, ética e cultura na educação, que organizei junto com Renato José Oliveira, aonde estou ao lado de outros onze colegas envolvidos com a Educação nas Ciências, com um capítulo:Inserindo a História da Ciência no fazer Educação; e, outra é de 1999:Ciência da Terra e meio ambiente : diálogo para (inter)ações no Planeta, que Heraldo Campos e eu organizamos, sonhando com uma Teologia da Libertação, onde um dos doze capítulos é: Buscando um eixo histórico para o ensino das Ciências da Terra.
Em 2000, houve o lançamento, mais uma vez pela Editora UNIJUÍ, aquém credito também esta homenagem que vocês me fazem, de Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação que tivera uma gestação extensa e onde continuo com discussões acerca das minhas tentativas de migrar das utopias para realidades. Nestas evocações cabe ainda um registro para mim muito auspicioso: Nas duas edições deste livro há uma informação: Os direitos autorais desta edição destinam-se ao Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Reconheci que eu não era autor da maioria do que escrevera. Aprendera muito com meu trabalho junto ao MST. Sei que os exemplares que o MST recebeu a título de direito autoral estão nas mãos de professoras e professores em todos estados do Brasil, nos quais o Setor de Educação do MST está presente.
Já que trouxe para festa de vocês o relato de algumas de minhas escrituras permito anunciar que está no prelo um dos produtos de meu pós-doutoramento feito no primeiro semestre deste ano na Universidad Complutense de Madrid. Um livro que terá como título provável: Alfabetização científica : anúncios e denúncias. Tenho um projeto bem adiantado: fazer livro a narrativa de como a Química se transformou em uma disciplina escolar e como passou ser ensinada.
Mas hoje é festa e já excedi-me em falar de livros. Assim, volto mais fortemente ao ritual que agora vocês celebram. Recordo as diversas formaturas que presidi enquanto Diretor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A mim o momento se assemelhava às ocasiões de despedidas das grandes navegações dos séculos 15 e 16. Agora são vocês que parte para fazer grandes travessias. Diferente de então, nos que ficamos a acenar para vocês aqui da murada do porto não entregamos a cruz da Igreja nem a bandeira do rei para que façam conversões e apossamentos. Cada um de nós: pais, amigos, companheiras e companheiros, professoras e professores lhes ungimos com o sinal da esperança e damos como uma missão: ao usar a Química para fazer a Educação dos homens e das mulheres que serão os alunos de vocês colaborem para que sejam cidadãos e cidadãs mais críticos para que estes possam a ajudar a transformar o mundo e que esta transformação seja para melhor. A missão é árdua, mas não impossível.
E, ... continuem sonhando, pois há muitas utopias para se transformarem em realidades.